Série especial

Transporte de embriões - Parte 1

  • FLÁVIA ZAGO
  • 04/08/2021
  • 12h23

Por: Gustavo Mendes Gomes1, André Maciel Crespilho2, Letícia Patrão de Macedo Gomes1

 

Você sabia que existe várias possibilidades de transporte de embriões? Para a abordagem desse tema, ouvimos especialistas em reprodução equina. Eles informam que o desenvolvimento de novas técnicas possibilitam melhor aproveitamento dos animais e tornam possível acelerar o aprimoramento das raças e seus cruzamentos.

Nesse contexto, a transferência de embrião (TE) representa a ferramenta que mais cresceu nas últimas três décadas, principalmente em países como Argentina, Estados Unidos, França e Brasil.

 A transferência de embriões na égua é um método que consiste em coletar (recuperar) do útero de uma égua doadora, um ou mais embriões, obtidos por fecundação in vivo (frutos de uma monta natural ou inseminação), e transferir este (s) embrião (ões) para o útero de outra égua que será a receptora, onde ele continuará seu crescimento e seu desenvolvimento até o nascimento.    

 

Transporte à temperatura ambiente

 

É sabido de que diversos cuidados devem ser tomados quanto ao tempo de armazenamento e temperatura a qual são expostos os embriões coletados. Em 1974, pesquisadores japoneses relataram que os embriões equinos resistiam por até 2 horas após a colheita sob temperatura ambiente. Dessa forma, após a recuperação os embriões possuem uma longevidade a fresco de até 120 minutos antes da inovulação, sem comprometimento das taxas de prenhez dentro do programa de TE.

Dr. Jose Renato Caiado comparou a eficiência de dois meios de manutenção de embriões (onde eles são mantidos entre a colheita da égua doadora e a inovulação na égua receptora) na conservação de embriões equinos mantidos à temperatura ambiente (25ºC e 35ºC). Ambos foram eficientes na manutenção da viabilidade do embrião a essas temperaturas. Entretanto, ele observou que houve queda na qualidade quando o tempo ultrapassou 60 minutos, mostrando que o armazenamento à temperatura ambiente tem limitações quanto ao tempo de permanência dos embriões e isso pode afetar a viabilidade do embrião e, com isso, os índices de fertilidade. Além do trabalho mencionado, outros estudos confirmaram efeitos deletérios relacionados ao armazenamento de embriões por período superior a 120 minutos entre a coleta e a inovulação.

De forma conjuntural, o aumento do período de viabilidade do embrião à temperatura ambiente poderia trazer maior flexibilidade ao médico veterinário, principalmente quando as doadoras e as receptoras encontram-se alojadas em locais diferentes, mas numa distância que não justifique a refrigeração dos embriões.

Para avaliar a possibilidade de aumento da longevidade embrionária sob temperatura ambiente um grupo grupo de pesquisa realizou um estudo Universidade de Vassouras, Vassouras, RJ, utilizando 45 éguas doadoras da raça Mangalarga Marchador, com idade média 6 a 29 anos. Foram recuperados neste estudo 126 embriões, dos quais 79 foram mantidos em meios de manutenção por até 120 minutos entre e a coleta e a inovulação (G1) e 47 foram mantidos por 121 a 240 minutos nas mesmas soluções (G2; Tabela-1). Após o período de estocagem, esses embriões foram inovulados nas éguas receptoras e foi verificada a prenhez com 15 dias.



PARA VER TABELA Clique aqui



De acordo com os resultados obtidos foi possível concluir que a manutenção dos embriões equinos à temperatura ambiente por períodos entre 2 a 4 horas (121 a 240 minutos) não acarreta nenhum prejuízo à qualidade do embrião e à fertilidade.

 

Refrigeração de embriões

 

Uma das principais inovações nos programas comerciais de transferência de embriões equinos foi à possibilidade de transporte embrionário sob refrigeração. Os primeiros procedimentos para refrigeração e transporte de embriões de cavalos foram descritos por Carnevale e colaboradores, em 1987 no Estado do Colorado, USA.

A refrigeração de embriões equinos se faz necessária quando estes são coletados e haverá um tempo prolongado até a inovulação do embrião, ou quando estes serão transportados a longas distâncias em que a manutenção à temperatura ambiente não é suficiente para garantir a manutenção da viabilidade do embrião.

Alguns pesquisadores provaram que os embriões equinos podem ser armazenados a 5ºC, 15ºC ou 20ºC por até 24h após a colheita sem prejuízos à fertilidade. Em um trabalho publicado em 2000, pesquisadores obtiveram a taxa de gestação 64,6% e 69,3%, respectivamente para embriões transferidos à fresco ou refrigerados. Em 2002, um pesquisador brasileiro chamado João Junqueira Fleury realizou um estudo com um número expressivo de embriões no qual foi possível observar e concluir que não houve declínio na viabilidade e fertilidade de embriões equinos refrigerados por até 24 horas a 5ºC.

Porém, alguns pesquisadores divergem sobre a influência da refrigeração na taxa de gestação pós-transferência embrionária em equinos. Moussa e colaboradores em 2002 concluíram que ao longo do processo de refrigeração as células embrionárias começam a morrer e que em função disso a qualidade dos embriões piora, principalmente após 6 horas de repouso a temperaturas baixas (de 5ºC a 18ºC). Dessa forma, novos estudos são necessários para avaliar a possível relação entre o armazenamento de embriões equinos sob refrigeração (principalmente por períodos de tempo superiores há 24 horas) e a ocorrência de lesões às células embrionárias, que podem comprometer a fertilidade pós-inovulação .

 

 

1-Centro Avançado de Reprodução Equina, Vassouras/RJ, Universidade de Vassouras, Vassouras/RJ.

2- VetSemen – Analise de Sêmen para Inseminação Artificial, Barueri, SP.

 

Fique conectado, em breve lançaremos a segunda parte da série com a criopreservação de embriões.