Mais conhecida como Bambeira Equina, a Mieloencefalite Protozoária Equina (EPM) é uma doença neurológica causada pelo protozoário Neurona Sarcocystis. Presente nas fezes do gambá, ele chega ao sistema nervoso central dos equinos através da corrente sanguínea, provocando, fraqueza muscular, perda do equilíbrio, da mobilidade, dentre outros problemas.
Em casos mais graves, a enfermidade pode levar a paralisia dos nervos cranianos, atrofia muscular ou até mesmo a morte do animal. Os cavalos contraem a doença através da ingestão das fezes contaminadas do gambá, que podem estar presentes no feno, na ração, água ou até mesmo na pastagem natural. Para identificar o problema, o criador precisa observar alguns sintomas característicos, embora, o aparecimento e a gravidade estejam ligados ao grau de comprometimento do Sistema Nervoso Central.
Um dos primeiros sinais apresentados é o desequilíbrio. Problema rapidamente percebido pela criadora Lucilene da Glória Castelhano Teixeira, do Haras Porteira Velha em Belo Horizonte (MG), que há cerca de dois anos viu o seu animal, Sheik do Coqueiro Verde, apresentar problemas de locomoção e desgaste em uma das ferraduras, “Olhamos casco, tiramos a ferradura e logo ele começou a andar com as pernas traseiras duras, não conseguia dobra-las, principalmente, para descer, então chamamos um veterinário que diagnosticou a Doença do Gambá.”, relatou a criadora.
Mas o diagnóstico dado pelo especialista não foi animador, “O veterinário que diagnosticou disse que não tinha cura, então levamos o animal para um pasto em Caxambu, já sem nenhuma perspectiva.”. Tempos depois, de acordo com o relato de Lucilene veio uma nova esperança... “Comentamos o problema do Sheik com um outro veterinário e ele nos informou que já havia tratamento para a doença, a cura não era garantida, mas resolvemos tentar.” relembra. Seguindo a recomendação médica, iniciou-se um tratamento clínico de três meses. Com o quadro de melhora de Sheik do Coqueiro Verde, posteriormente, os donos deveriam ministrar de seis em seis meses uma nova dosagem da medicação.
Segundo o médico-veterinário Filipe Rodrigues Gontijo, especialista em diagnóstico e cirurgia equina, o quanto antes se identificar a doença e iniciar o tratamento, maiores serão as chances de cura e a não permanência de sequelas. Felipe justifica a dificuldade em se alcançar a cura do animal, “A cura parasitológica é difícil porque há a formação de cistos na musculatura, e se o animal está debilitado, com o sistema imunológico comprometido, esses cistos podem se romper e circular na corrente sanguínea, fazendo com a doença retorne. A medicação atua também rompendo esses cistos para diminuir as possibilidades de reaparecimento da doença.”, esclareceu.
O veterinário também falou sobre a extensão de danos, “A doença acomete diretamente aos nervos, podendo haver sequelas por lesões de nervos, muitas vezes irreversíveis, por isso, mais cedo houver o diagnóstico e o tratamento, melhor”. Filipe afirma ainda, que atualmente a letalidade da doença não é tão alta como antes.
Doença não é transmissível
Vale destacar, que a Bambeira Equina não é transmissível de um cavalo para outro, os equinos são hospedeiros acidentais, ou seja, não é imprescindível para o ciclo evolutivo do protozoário. Portanto não é necessário isolar o animal doente ou a área habitada por ele.
A melhor forma de prevenir o aparecimento da Doença do Gambá, é evitando a presença de gambás no ambiente em que os cavalos habitam, embora essa seja uma prática difícil, já que a contaminação pode ocorrer nas áreas de pastagens naturais. É importante também a higienização correta dos cochos (evitando sobras de alimentos por longos períodos) e bebedouros disponíveis aos animais. Convém lembrar ainda que, por ser um animal silvestre, o gambá é protegido por lei e por esse motivo não pode sofrer perseguição.
RESUMO:
A doença: Incômodo neurológico motivado pelo protozoário Neurona Sarcocystis, que ao se instalar no Encéfalo ou na Medula Espinhal, provoca infecção e inflamação.
Sintomas: Os primeiros sinais podem aparecer de forma rápida, cerca de um mês após a contaminação ou tardiamente, até dois anos depois.
Sinais de Alerta: Tropeços, dificuldade em movimentar-se, andar em círculos. O agravamento dos sintomas depende da idade do animal, estilo de vida e resposta do sistema imunológico.
Diagnóstico: Observação dos sintomas, exame clínico e avaliação com especialista. O diagnóstico definitivo é alcançado com o exame Western Blot, que analisa o líquido cefalorraquidiano do animal e é realizado nos Estados Unidos.
Tratamento: A dosagem e o tempo de medicação, devem seguir a recomendação do especialista responsável.
Prevenção: Manter baias, cochos e bebedouros limpos, evitando sobra excessiva de alimentos. Impedir o acesso dos gambás nas áreas de convívio dos animais. Em áreas naturais (pastagens) esse controle é mais difícil.
Sobre o Gambá:
O Gambá é protegido pela Lei Nº 9.605 de Crimes Ambientais, que proíbe a perseguição e morte aos animais silvestres, dentre eles o gambá. Na natureza, ele cumpre importante papel, além de espalhar as sementes dos frutos que comem, eles também são reguladores de outras espécies dos quais são predadores, situação que evita o desequilíbrio da cadeia alimentar.