Estudo Científico

Melhoramento Genético

  • PAULA MAGALHÃES
  • 29/05/2018
  • 16h21

Série de artigos buscará explicar alguns conceitos básicos usados nos estudos sobre Melhoramento Genético e Ezoognósia. A ideia é que futuramente todos os criadores possam empregar as tecnologias disponíveis no mercado como ferramentas auxiliares para seleção de reprodutores e capazes de transmitir para seus descendentes as características desejáveis na marcha.

A ABCCMM e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, estão investindo em uma pesquisa da Universidade Federal de Lavras – UFLA, que auxiliará na caracterização genética e fenotípica da raça (vide **). Coordenam o projeto as pesquisadoras do Departamento de Zootecnia, Raquel Moura e Sarah Meirelles (sarah@dzo.ufla.br).

O melhoramento genético animal é um conjunto de processos seletivos que visam o aumento da frequência dos genes desejáveis na população da raça, consequentemente diminuindo a frequência dos genes indesejáveis. No caso do Mangalarga Marchador é a aplicação de estudos sobre a genética animal e a ezoognósia, com o intuito de aumentar a eficiência na seleção da marcha. 


A marcha é transmitida de pai para filho?

Quando se fala em herança, hereditariedade ou transmissão de genes de pai para filho, o que vem na nossa mente é que precisamos identificar os melhores animais nas populações para serem pais da próxima geração, buscando aumentar a eficiência da função econômica selecionada na raça. Geneticamente falando, sabe-se que 50% dos genes dos progenitores (pai e mãe) são transmitidos para suas progênies (filhos), ou seja, os desempenhos de um certo indivíduo se devem 50% da sua mãe e 50% de seu pai. Desta forma, a meta de um programa de melhoramento genético é auxiliar na seleção correta de progenitores que sejam superiores geneticamente para que suas qualidades sejam transmitidas para suas progênies.

A grande maioria das características estudadas nas populações dos animais são influenciadas por muitos genes, sendo também muito influenciadas pelo meio ambiente. Considera-se meio ambiente, todo efeito que atua sobre o desempenho de um animal, sem ser genético, por exemplo: treinamento, dieta, clima, instalações, mão de obra, sanidade, entre outros.

Para que os criadores consigam ao longo das gerações melhorar as características de importância na raça Mangalarga Marchador, por exemplo, é preciso conhecer como cada uma delas é influenciada pelos genes que nelas atuam e também o quanto de cada característica se deve a efeitos genéticos e ambientais.

Desta forma, há necessidade de realizarmos essa pesquisa focada na área de melhoramento genético e ezoognósia para sabermos como se comporta cada característica de importância para a raça, bem como sabermos quais delas respondem mais rápido a seleção, obtendo assim conhecimentos básicos de grande importância para a correta e direcionada melhoria das características de interesse para o Mangalarga Marchador.

Como escolher um bom reprodutor (garanhão ou matriz)?

Existem duas ferramentas básicas em um programa de melhoramento genético: seleção e acasalamento. Selecionar nada mais é do que escolher os indivíduos que serão pais da próxima geração e acasalamento é a combinação do material genético da melhor forma possível.

Quando falamos em reprodutor, temos que pensar em machos e fêmeas. Um bom garanhão ou matriz deve ser escolhido pelo seu valor genético. Esse parâmetro faz parte dos cálculos feitos em um programa de melhoramento genético, sendo definido como o valor do indivíduo como reprodutor, ou seja, se o animal possuir um bom valor genético isso quer dizer que ele possui bons genes para uma determinada característica de interesse e desta forma 50% desses genes serão transmitidos para suas progênies. O cálculo do valor genético busca isolar todos os efeitos ambientais que possam influenciar o desempenho de um animal, desse modo o que resta é somente o efeito de seus genes.

O animal terá melhor valor genético se os genes que ele possui forem responsáveis por um desempenho melhor nas características de interesse. Dessa forma podemos selecionar os animais baseado em valores que estão relacionados com a qualidade genética dos progenitores e não selecionar nos desempenhos que muito dessa qualidade dos desempenhos podem ser devido a efeitos ambientais e não genéticos.

Se não são realizadas pesquisa nesse sentido, muitas vezes os criadores podem querer melhorar a marcha ou morfologia de seus animais e estes não conseguem atingir seus objetivos, pois ainda não conhecemos todas as ações dos genes relacionados às características relacionadas a marcha e se estas podem responder mais rápido a seleção ou não.

Ezoognósia, o que é isso?

A ezoognósia ou estudo do exterior dos animais nada mais é que um ramo da zootecnia voltada a avaliação do animal, servindo-se de princípios fundamentais de anatomia, fisiologia, biomecânica e patologia, tendo em vista sua aplicação funcional e, consequentemente, sua importância econômica (Camargo e Chieffi, 1971). Quando os criadores querem conhecer e selecionar os parâmetros genéticos que permitirão alcançar os objetivos de criação na raça Mangalarga Marchador, ainda são necessários estudos para padronização e aplicação metodologias qualitativos e quantitativos voltados à análise de características visíveis no exterior dos animais; e que posteriormente serão usados nos cálculos de um programa para melhoramento genético.

Dessa forma, conhecendo as ações dos genes e os efeitos de ambiente sobre características avaliadas durante o registro genealógico e julgamento em pistas, associadas ao detalhamento de informações que o uso de métodos objetivos para caracterização da morfologia e andamento do Mangalarga Marchador que a pesquisa da UFLA irá utilizar, será possível dar subsídios para a implementação de um futuro programa de melhoramento genético e com certeza a raça terá muito mais resultado do que focar seus acasalamentos somente no desempenho, que em muitos casos, um ótimo desempenho é devido ao treinamento do animal e não devido a qualidade genética deste reprodutor.

 


** Importância da pesquisa da UFLA em parceria com MAPA e ABCCMM para o futuro da raça

A partir de um banco de dados cedido pelo Serviço de Registro Genealógico da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), as pesquisadoras da UFLA iniciaram estudos para caracterização genética e fenotípica do MM. O projeto está sendo executado em etapas conforme explica a professora Sarah. “A primeira parte desse estudo é a caracterização genética da raça Mangalarga Marchador; nós iniciamos em 2016 a coleta das amostras de pelos desses animais, e ao final dessa pesquisa prevista para 2020, a expectativa é de que tenhamos material genético de 300 equinos da raça Mangalarga Marchador, e de diversas outras raças formadoras do MM.” A especialista explica ainda que, com o estudo do material genético desses animais, através do estudo da caracterização genética da raça por meio de marcadores moleculares, existe a possibilidade de identificar genes ou alelos que são específicos da raça Mangalarga Marchador. Assim, quando um criador for registrar seu animal no livro aberto, o equino além de apresentar características morfológicas e de andamento dentro dos padrões exigidos pela ABCCMM, o animal deverá apresentar um certo grau de semelhança com o padrão molecular obtido na pesquisa.

Para a coleta dos dados (pelos + avaliação objetiva da morfologia e andamento dos animais), as pesquisadoras e sua equipe irão percorrer criatórios e exposições em diversos estados brasileiros, para realizar uma amostragem nacional que seja representativa da raça e que caracterize geneticamente e fenotipicamente o Mangalarga Marchador, podendo determinar uma correta e confiável identificação de quais genes ou regiões são responsáveis pelas características relacionadas à marcha e avaliações morfofuncionais.