Dieta Equina

Parte 04: A escolha correta do Volumoso

  • PAULA MAGALHÃES
  • 19/05/2021
  • 13h02

Para finalizar a sequência de dicas da professora Adalgiza Carneiro Resende sobre a alimentação volumosa dos equinos, conheça abaixo algumas espécies de gramíneas e suas principais características e aprenda como fazer a melhor escolha para a sua propriedade.


Saiba Escolher a Gamínea Correta

 Visando o perfeito funcionamento do aparelho digestivo dos equinos o alimento volumoso deve sempre estar presente na dieta dos equinos na proporção entre 50 e 100% do consumo de alimento diário.

Na escolha da gramínea para formar piquetes destinados aos equinos, deve-se dar especial atenção aos seguintes parâmetros:

Tipo de crescimento – deve ser estolonífero, pois diferente dos bovinos, os equinos têm pastejo baixo. Eles apreendem a gramínea rente ao solo e puxam arrancando-a. O meristema apical da forrageira deve, portanto, estar bem próximo do solo ou de preferência na ponta dos estolões, para que não seja atingido do momento da apreensão.

Palatabilidade – Algumas gramíneas como a Braquiária Decumbens ou a Estrela Porto Rico não são bem aceitas pelos equinos, que são altamente seletivos. Esses animais têm também preferência por gramíneas em crescimento que, por serem mais tenras, são mais macias e palatáveis quando comparadas àquelas em estágio de maturação avançado.

Relação Cálcio x Oxalato - Regra geral, as gramíneas tropicais apresentam alto nível de oxalato, o qual se liga ao cálcio, impedindo a absorção desse mineral pelos equinos. Para evitar a carência deste importante mineral na sua dieta, é importante que a relação entre o cálcio e o oxalato da forrageira a ser utilizada na dieta dos equinos, seja maior que 0,5. Gramíneas com uma relação inferior a esta podem predispor o rebanho equino a problemas relacionados à deficiência de cálcio incapacitando-os para o trabalho e reprodução, além de predispô-los a manqueiras e afetar de forma irreversível seu desenvolvimento ósseo. Em casos avançados, essa deficiência de cálcio no rebanho pode levar ao aparecimento da osteodistrofia fibrosa (Cara Inchada) nas categorias mais exigentes, como potros em crescimento e éguas em lactação. No Quadro 1 encontra-se o teor de Calcio, oxalato, Ca:oxalato de algumas forrageiras

Outros parâmetros devem também ser considerados no momento da escolha da forrageira para formar piquetes destinados aos equinos, tais como: elevada produção de matéria seca /hectare. Resistência ao pisoteio dos animais, pouca exigência de fertilidade do solo, resistência a pragas e doenças, fácil adaptação às condições climáticas e produtividade ao longo das estações.


 Algumas Grampineas Indicadas para os Equinos 


Como o sistema brasileiro de criação de equinos está fundamentado na criação extensiva, é importante conhecer as principais gramíneas que podem ser utilizadas para equinos para formar piquetes para os equinos. Dentre essas, destacam-se:

Tfton–85 - Apresenta boa palatabilidade e boa relação x oxalato. O hábito de crescimento é estolonífero, sendo resistente ao frio e à escassez de chuvas, pois possui rizomas subterrâneos que mantêm as reservas nutricionais, garantindo a sobrevivência da planta em condições adversas. É resistente ao pisoteio dos animais e o valor nutricional diminui lentamente ao longo do tempo. Também possui uma satisfatória relação folha/haste, sendo recomendado para pastejo e fenação.

Coast-cross - É uma gramínea ´perene, estolonífera e não rizomatosa. Esse último aspecto a torna mais sensível às condições climáticas adversas. As folhas são pilosas e a inflorescência de coloração verde. Possui ótima palatabilidade, sendo indicada para pastejo e produção de feno.

Florakirk - Recomendada para fenação, pois apresenta talos finos e alta relação folha/haste. Contudo, apesar de bastante palatável, é menos indicada que o Tifton-85, pois apresenta menor produtividade e resistência ao pisoteio.

Jiggs - Possui características semelhantes ao Florakirk, sendo bastante palatável, alta relação folha/haste e alto potencial de adaptação às condições brasileiras, o que mostra seu potencial para a produção de feno. É recomendado para equinos, pois além de palatável e crescimento estolonífero, possui baixo teor de oxalato.

Vaqueiro - Também recomendada para a produção de fenos, bem como para áreas de pastejo intenso. É bastante resistente a seca e às doenças. Apresenta boa produção de sementes, o que facilita sua implantação no terreno. Apresenta baixo teor de oxalato o que fortalece sua indicação para compor a dieta dos equinos nas condições brasileiras.

Estrela Africana – Gramínea perene, crescimento estolonífero, baixo teor de oxalato e considerada invasora devido a sua facilidade de propagação, pois irradia longos e fortes estolões. Resiste ao pisoteio dos animais.

Andropogon – Gramínea perene indicada para equinos pois apresenta boa palatabilidade, e baixo teor de oxalato. No entanto, tem crescimento cespitoso e tende a formar touceiras em virtude do tipo de pastejo baixo dos equinos. Quando usada para equinos deve ser bem manejada, e não deve ser utilizada para potros ou éguas com potros ao pé, pois as touceiras que se formam prejudicam a movimentação dos animais que se encontram em crescimento facilitando a ocorrência de acidentes.  

Capim gordura – Gramínea caracterizada pela presença de pelos pegajosos sobre as bainhas e as lâminas foliares. Não é exigente em fertilidade do solo, contudo apresenta baixa produção de matéria seca/hectare. É bastante aceito pelos equinos, no entanto, seu tipo de crescimento e baixa produtividade exigem baixa taxa de lotação.

Capim Rhodes – Possui talos finos e macios, sendo indicada para fenação. Apesar de possuir crescimento cespitoso, pode ser utilizada para formar piquete destinados aos equinos, pois seu meristema apical é baixo, sendo bastante preservado pelo hábito de pastejo realizado pelos equinos. além disso, é bastante palatável e apresenta baixo teor de oxalato.

Pensacola – Apresenta crescimento prostrado com abundante formação de estolões e rizomas curtos, os colmos são eretos e dispostos em pequenos tufos. As sementes são pequenas e apresentam dormência, necessitando serem escarificadas. É pouco exigente em fertilidade do solo, contudo têm baixa produção de matéria seca/hectare. Possui baixo teor de oxalato.

Capim Aruana – É um Panicum, assim como o Colonião, Tanzânia e Mombaça, porém diferente desses, possui porte médio e apresenta excelente capacidade e rapidez de perfilhamento. Outra vantagem desse Panicum, em relação aos demais é a presença do meristema apical baixo e portanto, assim como o Rodhes, apesar de ter crescimento cespitoso, é resistente ao hábito de pastejo dos equinos. Deve-se ter cuidado na sua implantação pois além de serem muito exigentes em fertilidade de solo, seu plantio deve ser feito em terrenos calcários, já que seu nível de oxalato está no limite máximo aceitável.          

 

Capim Elefante – Excelente opção para formação de capineira. Constitui uma alternativa viável para suplementação de volumoso picado no cocho. Possui valor nutricional satisfatório desde que cortado no intervalo de 1,5 a 2,0 metros de altura. Quando cortado em altura inferior pode provocar diarreia nos animais, enquanto que altura superior, além de reduzir o aproveitamento dos alimentos pelos equinos, predispõe às cólicas por impactação. Como sugestão para formação de capineira, deve-se manter apenas uma pequena área irrigada para que o tamanho ideal de corte seja facilmente mantido. Outro cuidado a ser tomado é sua implantação em terrenos calcários já que apresenta nível de oxalato acima da desejável para a espécie

 

Finalizando, é importante lembrar que na escolha da gramínea devem ser consideradas todas as interações, desde o tipo de solo, características fisiológicas e nutricionais da planta, condições ambientais e exigência do animal. Dessa forma, é possível obter um potencial máximo de produtividade a fim de reduzir os custos com a alimentação e obter animais saudáveis.

 

 

*Gramíneas em negrito não possuem relação Ca:oxalato adequada para formar piquetes para equinos

Fonte: Andrade et al (2015), Arquivo Pessoal  (Adalgiza Carneiro Resende)